sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Indecifráveis estranhos.

E sem nem pensar em olhar para trás, ela continuou correndo. Não sabia exatamente do que. Se era dos seus medos, dos seus sonhos não realizados, da pressão, das necessidades, ou dela mesma. Cada passo que dava, arrancava um pedaço de seu coração, e uma lágrima. Mais um passo e mais um pedaço. Mais uma lágrima, e agora um sorriso. E então a menina se cansou e se encostou. Porque um sorriso agora? Porque com tudo dentro de si torturando-a, um sorriso foi entregue? E foi nesse momento em que ela percebeu o que estava começando a se passar em sua cabeça. Eram memórias... Memórias de coisas boas, de tudo o que havia feito sua vida valer a pena até agora. E a menina começou a se arrepender de ter corrido. Toda a distância que percorreu afugentada pelo medo, a havia separado de todas essas coisas boas que a fizeram sorrir, e isso era uma coisa que não fazia parte dos seus planos. A menina pensou em voltar, mas quando olhou para trás, a multidão apressada que andava logo atrás dela, havia sumido. Não havia mais nada, apenas uma escuridão, e o desespero era quem tomava contada da menina agora. E neste momento, a única coisa em que a menina conseguia pensar era: Porque? Só que não conseguia achar resposta. Nada pareceu melhor do que começar a andar na direção contrária da qual estava indo, mesmo que não enxergasse nada. Ela precisava recuperar suas memórias. E então andou, andou, perdeu a noção do tempo e nada se esclareceu. A escuridão continuou, e as lágrimas já não davam espaço à sorriso nenhum. Foi quando o coração começou a apertar, e o arrependimento era quem invadia a garota um tanto quanto desolada neste momento. Porque havia fugido de seus medos? Porque havia fugido de suas obrigações e dos sonhos aparentemente impossíveis? Porque não encarar de frente mais alguns problemas? Ela pensou nas pessoas que estavam nas memórias anteriores, e se decepcionou consigo mesma por não ter percebido que junto há elas nada teria sido difícil, e aquela fuga estúpida não era necessária. Caso tivesse percebido isso antes, ela poderia estar enxergando neste momento. Então andou mais um pouco e pode encostar em algo... Uma parede talvez. Mas era muito gelado, porque uma parede seria tão gelada? Ela deu alguns passos para o lado tentando descobrir o que lhe dava apoio, mas caiu. Caiu por alguns minutos e voltou a ficar completamente desesperada, e os gritos constantes que saiam da boca daquela garota eram aterrorizantes. As lágrimas não cessavam. O que estava acontecendo? Ela realmente não sabia. A escuridão se amenizou um pouco, e era como se tivessem acendido uma lâmpada bem ao fundo. Então ela caiu no chão. Um chão também gelado, como a suposta parede e como suas lágrimas. Ela começou a andar na direção da luz, e o caminho parecia não ter fim. E então, enquanto andava, vultos das pessoas que estavam presentes em suas memórias passavam por ela, muito rápidos e muito fracos. Ela tentava pegá-los, mas era em vão... Os vultos se desmanchavam entre seus dedos. A menina finalmente chegou a luz, e então, entre uma lágrima e outra, outro sorriso saiu. Mas a luz não era luz, e a garota não sabia o que era. Ergueu sua mão para pegar o objeto desconhecido, tateou com um dedo e esperou algum tempo. Não lhe aconteceu nada de mal. Com determinação, esticou sua mão e foi na tentativa de agarrar o objeto, com muita vontade. Então sua mãe acendeu a luz do quarto e a chamou dizendo: - Filha, acorde, está na hora da aula.