terça-feira, 14 de setembro de 2010

A garota, de fato.

Ela era só mais uma menina com alguns anos nas costas. Não muitos, mas para ela eles significavam uma quantidade boa. Suficiente para acreditar que já tinha amado, e como todo bom amor, ainda sentia vestígios dele lá no fundo, mesmo que a parte avassaladora e estrondosa dele tivesse sido amenizada. Suficiente para ter aprendido que quebrar a cara na vida não era bom, mas que ela ainda quebraria inúmeras vezes, e o único jeito era aprender a lidar um pouco com isso. Suficiente para ter criados laços afectivos que a deixaram dependente de muitas coisas, e esse fato ás vezes era algo bom, ás vezes algo preocupante. Suficiente para aprender algumas lições de vidas, dar alguns conselhos, entender aquela história básica sobre o ''pra sempre'' -e acreditar nela-, sofrer uma decepção incrivelmente doída, ter uma alegria tão grande a ponto de embaçar os olhos e entender que todas as pessoas são pelo menos um pouco bipolar. E perceber que ela era muito. Era uma garota completamente normal, um pouco avantajada na altura, com suas queixas sobre o cabelo e o corpo -o qual ela realmente tinha uma briga constante-, que sorria e chorava. Emotiva, ciumenta, chorona, alegre, simpática, mau-educada, bem-educada, bipolar. Mas apesar de adorar estar rodeada de pessoas das quais ela gostava, apesar de adorar conversar sobre coisas fúteis, interessantes... apesar de gostar de sua hiperatividade temporária, uma das partes preferidas do dia da menina, era a noite. Onde nada mais existia além do seu notebook, sua cama, criatividade e alguns dvd's de sua série favorita. A garota se sentava na sua cama com a colcha rosa e felpuda -a qual tinha um apelido-, colocava o notebook em suas pernas cruzadas, ligava o DVD apenas porque se sentia mais segura assim, e simplesmente começava a teclar freneticamente letra por letra de suas idéias nem sempre tão boas. Talvez ela gostasse tanto, por ser um momento onde ela poderia falar tudo o que quisesse, sem nenhuma questionação. Onde ela poderia inventar e viajar pra mundos distantes sem ao menos sair do lugar. Onde ela poderia fazer tudo o que ela desejava. E como todas as pessoas, ela tinha um desejo impossível, aquele que todo mundo tem, e que é suficientemente grande para ser decepcionante -pelo fato de ser impossível-. Ela gostaria de poder escrever e aquilo que foi escrito então se tornaria realidade, assim como ela leu em um livro. Talvez fosse por isso que a menina escrevesse freneticamente, ás vezes até deixando as palavras se atropelarem e amassando algumas sílabas e letras nas entrelinhas, ou talvez ela escrevesse realmente por prazer, mesmo sabendo que o seu desejo nunca se tornaria realidade. Confesso que eu tenho quase certeza que era um pouco dos dois, até porque a menina tinha esperanças sobre o impossível, afinal ''o impossível é só questão de opinião'', e a opinião dessa garota era forte. Então nesse momento -na maioria das vezes a noite, como já dito- em que ela podia ficar sozinha, ela se alegrava por não ter que provar nada à ninguém, não ter que discutir por seu ponto de vista, não ter que sorrir forçadamente ou fazer minutos de silêncio por problemas dos outros, porque aquele era um momento só seu. Seus problemas, suas tristezas, suas alegrias, suas opiniões, realmente um momento SÓ dela. Algumas interrupções de vez em quando, mas nada que mudasse o humor da garota -apenas em alguns casos-. Mas então a inspiração da menina se esgotava, -deixo claro que só depois de muito tempo- e ela relia as linhas que acabara de inventar, desligava seu caderno virtual e se empoleirava em baixo de sua coberta apelidada. Pensava mais um pouco, tinha mais algumas ideias, viagens, sonhos e desejos, mas logo dormia. Sonhava. Sonhava com coisas que ás vezes nem ela mesma entendia, e então acordava rezando para lembrar qual teria sido seu sonho mirabolante da noite que acabara de ficar para trás. Levantava, ia cultivar sua vida social, coisa que começava fazendo com um pouquinho de mau humor, mas este logo passava. Então, depois de sorrir, gritar, falar, opinar, discutir e tudo que se relacionava a convivência com outras pessoas, ela voltava ao momento que era só dela, a parte que ficava na sua lista de preferidas. E era simplesmente assim que ela se tornava apenas mais uma garota com alguns anos nas costas, comum, mas ao mesmo tempo muito incomum, satisfeita por ser uma boa protagonista de sua história e conseguir crescer através de si mesma.


2 comentários:

  1. Se essa garota soubesse o quanto me indentifico com ela! Amei o texto, você é foda

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  2. Eu amei seu texto amiga, muito lindo mesmo! Não foi só a moça aí que se identificou, eu tmbm, com certeza. <3

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